“Reumatismo”

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 «Reumatismo» é a palavra que se utiliza para caracterizar as doenças reumáticas, que ao contrário do que muitas pessoas ainda pensam não são exclusivas de uma idade mais avançada ou consequência inevitável do envelhecimento. As doenças reumáticas não são doenças do idoso e podem afetar qualquer pessoa desde o nascimento até à terceira idade.  

É frequente este termo ser empregue para descrever doenças de origem não traumática que afetam o sistema muscular e osteoarticular. Apesar do seu início precoce ser frequente, as doenças reumáticas são doenças crónicas e a sua prevalência e incidência tem vindo a aumentar, face ao crescente aumento da esperança média de vida e consequente envelhecimento da população.

Importa, porém, esclarecer que “reumatismo” não existe, existe sim mais de uma centena de doenças reumáticas e músculo-esqueléticas com sintomas, características e tratamentos diversos. A Reumatologia é a especialidade médica que se dedica ao tratamento das doenças reumáticas, que afetam articulações, ossos, músculos, tendões e ligamentos.

 

Incidência das doenças reumáticas

As doenças crónicas reumáticas e músculo-esqueléticas afetam quase um quarto da população da Europa (mais de 100 milhões de pessoas), comprometendo a qualidade de vida, gerando diversos graus de incapacidade e, muitas vezes, morte prematura. As doenças reumáticas estão na origem dos mais elevados custos dos sistemas sociais e de cuidados de saúde. Só na Europa, devido aos custos com a assistência médica, incapacidade para o trabalho, baixa por doença e reforma antecipada, as doenças reumáticas geram custos económicos nos orçamentos de estados superiores a 240 biliões de euros/ano, prevendo-se que o impacto destas doenças aumente consideravelmente devido às alterações demográficas e mudanças no estilo de vida.

O Estudo Epidemiológico de Doenças Reumáticas em Portugal – EpiReumaPt – demonstrou que cerca de metade dos portugueses sofre de, pelo menos, uma doença reumática e que estas patologias são as que maior influencia têm na qualidade de vida. Nos países desenvolvidos, as doenças reumáticas são o grupo de patologias mais frequentes, estando associadas a um elevado nível de incapacidade funcional e laboral, uma vez que podem ocorrer em qualquer faixa etária, incluindo crianças e adultos jovens.

 

Que tipos de doenças reumáticas existem?

De uma forma geral, as doenças reumáticas podem dividir-se em:

Doenças reumáticas crónicas imunomediadas

Manifestam-se na sequência de problemas ao nível do sistema de defesa do nosso organismo (sistema imunitário) – como por exemplo a artrite reumatoide, as espondilartrites, as artrites idiopáticas infantis, a polimialgia reumática, as vasculites, o lúpus eritematoso sistémico, entre outras patologias difusas do tecido con­juntivo.

Do­enças reumáticas não imunomediadas

Grupo em que se incluem, por exemplo, a fibromialgia, a gota, as tendinites, a osteoporose e a osteoartrose.

Quais os sintomas das doenças reumáticas?

As doenças do foro da reumatologia têm origens distintas, mas alguns sintomas são comuns à maioria das patologias: dor nas articulações – que pode ou não vir acompanhada de inchaço e limitação da capacidade funcional – presença de inflamação nas articulações (a que se dá o nome de artrite) e limitação da mobilidade. O que as pessoas denominam vulgarmente por reumatismo diz respeito, frequentemente, a um quadro de artrite, ou seja, inflamação da articulação. Normalmente, a dor articular faz-se acompanhar de inchaço, vermelhidão e calor local o que aponta para uma articulação inflamada ou uma artrite. As artrites mais frequentes são a artrite reumatoide, a osteoartrite e a gota. Quando a pessoa tem uma dor articular, mas não há sinal de inflamação estamos perante uma artralgia (um termo que significa precisamente dor na articulação).

 

Como distinguir os tipos de dor das doenças reumáticas?

A dor na doença reumática tem diversas tipologias: dor reumática crónica de ritmo mecânico, dor crónica de ritmo inflamatório e dor crónica músculo-esquelética.

A dor reumática crónica de ritmo mecânico é a dor do movimento, que piora com o movimento e com o esforço. As dores geralmente são piores ao fim do dia, quando a sobrecarga da articulação se faz sentir de maneira mais intensa. Este tipo de dor melhora geralmente com repouso. É o tipo de dor clássica da osteoartrose, por exemplo.

A dor crónica de ritmo inflamatório é a dor do repouso, que acorda durante o sono, a dor que dói no calor da cama. Classicamente é muito pior no início do dia, sendo a rigidez matinal bastante prolongada, chegando causar dificuldades em executar os movimentos por mais de uma hora. O levantar da cama de manhã ou o movimento após um período relativamente prolongado de imobilidade é extremamente doloroso. É classicamente representativa das doenças inflamatórias articulares, isto é, das artrites.

A dor crónica músculo-esquelética é a dor muscular local ou geral, porém incaracterística, e que apresenta uma rigidez matinal prolongada. Um exemplo de dor músculo-esquelética é a Fibromialgia, que se manifesta por dores difusas pelo corpo todo, acompanhadas de alterações do sono e fadiga.

Como prevenir as doenças reumáticas?

Diversos estudos sugerem que, por comparação com países do norte da Europa, a população portuguesa tem uma longevidade semelhante, mas mais doenças crónicas e complicações médicas e, por isso, menor qualidade de vida. Prevenir as doenças reumáticas passa por dar atenção a fatores de risco como tabagismo, sedentarismo e excesso de peso, não só fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, mas também muito associados a algumas patologias músculo-esqueléticas. A informação sobre um estilo de vida saudável e preventivo da doença reumática, bem como a informação que permita o conhecimento dos sinais de alerta das doenças reumáticas – por forma a permitir um diagnóstico precoce – é fundamental e pode ter um papel decisivo na saúde e qualidade de vida dos portugueses.

Proteger as suas articulações. Este é o conselho mais útil que podemos dar-lhe quando se trata de prevenir as doenças reumáticas. Há, inclusive, uma série de recomendações que podem contribuir para poupar as suas articulações, evitando a dor e a incapacidade:

• Evite o excesso de peso – faça uma alimentação saudável e equilibrada e mantenha um peso adequado à idade e altura;

• Evite o sedentarismo, faça exercício e mantenha-se fisicamente ativo.

• Escolha um colchão plano e firme e uma almofada macia e não demasiado alta.

• Prefira sapatos baixos com base de apoio larga.

• Evite esforços e movimentos muito bruscos.

• Se tiver que passar muitas horas sentado a trabalhar, sente-se confortavelmente e com apoio lombar e tente poupar as costas e o pescoço. Faça pausas frequentes para mudar de posição.

Como se diagnosticam as doenças reumáticas?

O histórico clínico é importante para que o médico possa orientar o diagnóstico da patologia reumática. Saber qual o tipo de dor. Quando é que a dor é mais intensa. Se existe febre baixa ou cansaço. Quando começou a dor e se há, ou não, rigidez muscular de manhã. Quais as articulações afetadas e se existe inchaço, calor ou limitação do movimento. Todas estas questões são importantes na altura de avaliar o doente e tentar chegar a um diagnóstico. Para além da história clínica e exame físico, o médico pode ainda avaliar aspetos como os reflexos e a força muscular e recorrer a análises ao sangue, que podem indicar a presença de anticorpos como o fator reumatoide ou a presença de inflamação (proteína C reativa e velocidade de sedimentação).
As radiografias, ou Raio-X, são usadas mais para ver o atingimento da doença do que propriamente numa fase inicial do diagnóstico. O médico pode ainda recorrer a outros exames de imagem como é o caso da Tomografia Axial Computorizada (TAC) e da Ressonância Magnética.

Como se tratam as doenças reumáticas?

O tratamento das doenças reumáticas tem que ser avaliado caso a caso pois como já se referiu existem centenas de patologias reumáticas e músculo-esqueléticas, sendo que atualmente existem medicamentos e outras intervenções terapêuticas eficazes para tratar as doenças reumáticas, o que significa minimizar o impacto da condição na qualidade de vida da pessoa. Nas crises de dor, o médico prescreve habitualmente analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares. Muitas vezes é necessário recorrer à fisioterapia como complemento da estratégia terapêutica, tentando através de diversas técnicas aliviar a dor, ao mesmo tempo que se fortalece a musculatura que sustenta as articulações envolvidas, prevenindo, desta forma, novas crises. No caso da osteoartrose, uma das doenças reumáticas mais comuns, a prevenção é o tratamento mais eficaz: adotar uma postura correta e uma alimentação equilibrada, saber como se sentar e como carregar pesos e combater o excesso de peso são medidas fundamentais para a manutenção de um esqueleto saudável.

Na presença de dor crónica inflamatória, o tratamento envolve a intenção de tratar a dor, mas também medidas para impedir a progressão da doença para que o dano articular seja o menor possível, mantendo assim a funcionalidade das articulações. O médico pode usar analgésicos, anti-inflamatórios e corticosteroides, bem como fisioterapia ou terapia ocupacional. Massagens e exercício físico adequado a cada caso são muitas vezes indicados para tratamento das doenças reumáticas como complemento da terapêutica medicamentosa.

Informação e conhecimento são pilares fundamentais na obtenção de sucesso no tratamento de uma patologia reumática. Informe-se e lembre-se que perante centenas de diferentes patologias reumáticas o mais importante é prevenir e diagnosticar de forma precisa e atempadamente pois para cada uma delas há tratamentos específicos e formas de aliviar a dor e melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida.

Alguns exemplos de doenças reumáticas 

FIBROMIALGIA

A fibromialgia é um distúrbio caracterizado por dor músculo-esquelética generalizada acompanhada por problemas de fadiga, sono, memória e humor. É mais frequente em mulheres que homens.

SINTOMAS

Os sintomas de fibromialgia podem começar após um trauma físico, cirurgia, infeção ou stress psicológico significativo. Noutros casos, os sintomas podem ser de instalação insidiosa, sem nenhum evento desencadeante. Acredita-se que nesta entidade possa haver fenómenos de sensibilização central com amplificação da perceção da dor e alteração do seu processamento a nível do sistema nervoso central, podendo estar associada a dores de cabeça tipo tensão, distúrbios da articulação temporomandibular , síndrome do intestino irritável, ansiedade e depressão. Enquanto não há cura para a fibromialgia, uma variedade de medicamentos pode ajudar a controlar os sintomas. Exercício, relaxamento e medidas de redução do stress também podem ajudar.

Febre Reumática

A febre reumática é uma complicação não supurativa (auto-imune) de uma infeção da orofaringe pelo streptococcus b-hemolítico do grupo A de Lancefield, num hospedeiro susceptível. A febre reumática é mais comum em crianças dos 5-15 anos de idade, embora possa ocorrer em crianças mais pequenas ou adultos. Embora a faringite streptocócica seja comum, a febre reumática é rara. A febre reumática pode causar lesões cardíacas permanentes, incluindo disfunção valvular e insuficiência cardíaca. Durante o curso infecioso pode haver quadro de poliartrite (várias articulações afetadas) associada, seja por deposição de imunocomplexos (artrite auto-imune – doença reumática) seja atrite sética (infeciosa).

Osteoartrite

Artrite é uma inflamação de uma ou mais articulações. Os principais sintomas da artrite são dor em repouso e à palpação, rigidez, calor, rubor (vermelhidão) e aumento do volume articular. As causas mais frequentes de artrite são a osteoartrose agudizada e a artrite reumatóide, um distúrbio auto-imune que atinge primeiramente o revestimento das articulações (sinovial). A artrite por deposição de cristais de ácido úrico, infeções, psoríase ou lúpus, são outros exemplos. Os tratamentos variam dependendo do tipo de artrite. Os principais objetivos dos tratamentos para artrite são reduzir a inflamação, a dor e melhorar a funcionalidade e qualidade de vida.

Osteoartrose

A osteoartrose ou simplesmente artrose é a forma mais comum de patologia articular, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Ocorre quando a cartilagem protetora nas extremidades dos ossos se desgasta com o tempo. Embora a osteoartrose possa danificar qualquer articulação do corpo, o distúrbio afeta mais comumente as articulações a carga ou microtraumatismos de repetição como ancas, joelhos, coluna vertebral e mãos.

Embora o processo degenerativo subjacente não possa ser revertido, é possível gerir os sintomas com eficácia por muito tempo e atrasar a progressão da doença, com tratamento fisiátrico, medicação anelgésica, condrosuplementação oral e viscossuplementação intrarticular. Na ausência de melhoria aceitável e/ou défice funcional importante, pode propor-se cirurgia como última linha de tratamento. Manter-se ativo, manter um peso adequado é fundamental para atrasar a progressão da doença e ajudar a melhorar a dor e a função articular.

Espondilite

A espondilite anquilosante (EA) é uma condição crónica que cursa com inflamação da coluna e outras áreas do corpo. Os sintomas da EA podem variar, mas geralmente envolvem dor nas costas e rigidez que melhora com o exercício e não é aliviada por repouso, dor e aumento do volume articular noutras partes do corpo, como ancas, joelhos e costelas e fadiga. Estes sintomas instalam-se gradualmente, geralmente ao longo de vários meses ou anos, e podem surgir e desaparecer com o tempo. Estes ciclos intermitentes de inflamação articular contribui para a sua degradação progressiva levando a limitação da amplitude de movimentos, com sequelas frequentemente irreversíveis.

Doenças Reumáticas

O reumatismo ou doença reumática é um termo abrangente para as condições que causam dor crónica, muitas vezes intermitente, que afeta as articulações e/ou o tecido conjuntivo. O termo "reumatismo", no entanto, não designa nenhum distúrbio específico, mas abrange pelo menos 200 condições diferentes, incluindo a osteoatrose, doenças auto-imunes e secundárias a doenças infeciosas. A abordagem da doença reumática tende a concentrar-se na componente de artrite, mas o "reumatismo" também se pode referir a outras condições que causam dor crónica, agrupadas como "reumatismo não articular", também conhecida como "síndrome de dor regional" que engloba a articulação e os tecidos moles envolventes. Alguns casos de dor articular crónica reumática foram associados a doenças infecciosas. A sua etiologia era desconhecida até início do século 20 e não era tratável, como a doença de Lyme (norte dos EUA), coccidiomicose ou febre do vale (oeste dos EUA) e Chikungunya (Índia) e uma infinidade de causas de artrite pós-infecciosa também conhecida como artrite reativa como, por exemplo, a febre reumática uma vez muito comum após a infecção por Streptococcus do Grupo A até à rara doença de Whipple. Outras causas de doença reumática são as doenças auto-imunes que ocorre quando sistema imunitário ataca o corpo do paciente.  

Referências:

SOCIEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA. Consultado em 22 outubro de 2019.

LIGA PORTUGUESA CONTRA AS DOENÇAS REUMÁTICAS. Consultado em 22 outubro de 2019.